segunda-feira, 22 de julho de 2013

UM DIA


Vinte e quatro horas. Um pouco mais, talvez. Um intervalo gigante entre o querer e o poder. A areia da ampulheta caindo lentamente, grão em chão derramado. Vidro lascado, calendário riscado. 
Um dia inteiro para se viver antes de acordar novamente e sorrir. É hoje. Mas ainda não é. Há duas noites para atravessar, louça para lavar, o resto do dia para varrer. Marcar as iniciais na porta do amanhã. Ter como meu o que ainda não desabrochou. Ainda não. 
Preciso piscar os olhos uma, duas, muitas vezes, para ver se o tempo passa mais depressa. Dançar pulando compassos, ignorar as pausas, seguir adiante no ritmo do pulsar de pensamentos. 
Um dia, uma terça. Nem rezo o terço. Dia de Marte, Senhor da guerra. Deixe-me ficar na impaciência, reinar no desassossego da entrega. Permita-me despejar águas e formar cachoeiras. Alimentar todos os rios, extrapolar margens e arranjos. Dedicar-me ao inesperado sonho, ao projeto mais fútil. Colorir unhas como quem se pinta para a batalha. Camuflada esperança de ter mais o que fazer do que no tempo pensar. 
Ah, dia , chegue logo. Alcance meus pés ainda na cama, me assombre com seus bons presságios. Vista-me de luz. Cubra-me de flores. Traga-me folha e papel, escreverei seu nome. Levantarei de vez, cheia de sorrisos e suspiros. É dia. Ai, ainda não.
A noite abraça possibilidade e saudades. Corre depressa escondendo-se na sombra da lua. Dragão espera. São Jorge não avança. Ah, o tempo não se apressa mesmo. 
Então, prometa não se esquivar em desculpas. Só mais um dia. Não desista da festa. Acolha os convidados: abraços e beijos. Mais alguns. Todos eles. 


Um comentário:

Ana Silva disse...

Nós duas temos falado muito sobre o tempo..será uma sincronia universal?