terça-feira, 16 de julho de 2013

RISCOS DE SAL


Remexidos papéis e argumentos, a casa cedeu. Sob o peso inerte de um sólido desejo. Sem nem um sopro de razão. Tudo arrasado e arrastado pelas ondas da imaginação. Ela culparia hormônios ou demônios, se não fosse tão fremente a busca por sobreviventes sentidos.
Não restaram destroços. O que fora derrubado tornara-se puro pó. Poeira dispensada, soprada pela brisa. O mar acolhera o que nem o fogo destruiria. Legado de mil condições impostas, fez-se crescente o apelo da vida por mais e mais. 
Em suas mãos, coragem e verdade. Nos seus olhos, cristais de amanhãs previstos. Os pés em elevada distância do que se consideraria provável ou sensato. Teria asas se considerasse a pureza como opção. 
Possuía ainda o gosto das pimentas mais ardentes na boca e na alma, como se mais fosse preciso provar. Experimentaria todos os sabores antes que o paladar emudecesse exausto. Acrescentaria de si mesma o ardor de condimentos mais picantes. 
Neste momento de recriação, nada era arriscado demais. O risco maior seria perder a intenção, o encontro, o revirar de toda emoção. 
Identidades reveladas somente no vão de um esbarrão do acaso. Palmas unidas, linhas entrelaçadas, tecendo seu próprio mapa. Destino estapeando descrentes alinhados em disciplina de sensações. Nada mais ali permaneceria intacto, já que o sal temperara o insosso desjejum de promessas amanhecidas.
Que a base não fosse firme, ela já pressentia. Paredes finas, tênues delicadezas em asas de borboleta, erguiam-se. Combinações diferentes de cal e algum mal sustentariam o que não encontrava descanso. 
De concreto só a certeza de se querer construir mais do que destruir. De certo, só a vontade de ficar ali, em sintonia com o desconhecido. Abrigar-se em peito oferecido quando a noite chegasse. Fitar estrelas em olhos e céus. Encontrar proteção e calor, sem questionar razão ou emoção. De resto, era só passado a ser esquecido, morto e sepultado no terreno baldio do não mais querer. 


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