domingo, 14 de julho de 2013

QUEM?


Acostumada a ser interpelada sobre seus passos, ela apenas balançou a cabeça em negativas sucessivas. Sacudiu os cabelos tentando afastar qualquer insistência. Suas ideias pairavam no ar. Não havia mais respostas. Não guardava mais lembranças. Uma nuvem de esquecimento encobrira o céu de sua memória.
Havia acontecido. De uma forma ou de outra, acontecera. Em questão de minutos, em mágica sintonia. Simples despetalar em lenta queda de sentidos. Sim, ocupara tempo e espaço sem licença. Como se já programado tudo estivesse. Estalo, faísca e labaredas. Sequência de atos determinados pelo querer genuíno. Riscos imprevistos, falhas cobertas com delicadezas sem fim. 
Ela sorria sem perceber porque ardia em crescente expectativa. Enquanto a mente lhe impingia alguma razão, metade dela já estava mergulhada no enredo apresentado. 
Impulsionada pela sede que lhe dominava, acrescentou dias ao que viria. Queria mais. Queria semanas, meses, ou talvez ainda mais. O tempo lhe devia satisfação agora. 
Embora insistissem na revelação de momentos passados, ela nada dizia. Esquecera. De tudo. De todos que antes por ali passaram. Como se a chuva aquarelasse não só suas dores, mas outros amores. Já fora ela. Agora, era outra. E essa se espalhava em desalinho, surpreendendo a si mesma pela ausência de pudores. 
Não se importava mais com nomes que antes lhe causavam arrepios ou suspiros. Não se lembrava deles. Não reconhecia mais suas iniciais. Não as possuía tatuadas na pele, nos lábios, no sorriso. 
Tudo se fora, assim, de repente. Aqueles que perderam identidade em sua alma, mais nada significavam. Lições repetidas que viraram rascunho inútil. Folhas rasgadas de um livro já esquecido. Sem nomes, Sem rostos, sem gostos. 

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