sexta-feira, 19 de julho de 2013

SENHOR DAS IMAGENS


Não o conhecia, mas também não poderia dizer que o desconhecia por completo. Era assim uma espécie de personagem a entrar e a desaparecer de sua vida. Sempre carregado de suspense e uma trilha sonora particular. Ela suspeitava que sem aquela companhia musical, o seu encanto se desintegraria por completo. O homem não teria mais a força vital que lhe movia através dos cenários cotidianos. Os passos não pareceriam assim tão decididos e firmes. Com certeza, pereceria. Encolheria. Seria mais um entre tantos que por ali passaram.
Além da música, o sujeito trazia consigo uma bagagem peculiar: malas, caixas, baús, todos repletos de imagens. Algumas tão já conhecidas, outras de inacreditável beleza, poucas de aparente raridade. Eram preciosas gravuras que mergulhavam com facilidade nas mentes que se aproximavam curiosas. Fora assim com ela. Experimentara sinestesias extravagantes ao tocar em alguns daqueles cartões, fotografias gastas pelo tempo e lágrimas.  Projeções mentais que se deitavam com ela sem permissão. Cobriam seu corpo com lençóis de sonhos, de ideias tão novas quanto a vida que lhe vinha ao ventre.
Espetacular sensação de render-se aos inacabados contornos daqueles desenhos coloridos. Eram todos uma viagem sem volta, com direito à paisagem na janela de um vagão encantado. Ele por sua companhia, seu fornecedor de magias, de ousadias em luz e sombra. Seu cavalheiro de escolhas difíceis, de maneiras estranhas, de compreensão tardia. Conhecedor das verdades expostas e das mentiras tão veladas como slides queimados pelo sol. De fato, era mestre. Das imagens, o senhor. 

Nenhum comentário: