domingo, 21 de julho de 2013

DIREÇÃO PERIGOSA

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Não seria agora que ela se esquivaria. Talvez fosse mais sensato desviar do trafego enlouquecido de sentimentos, estacionar no meio fio das ideias. Sem rumo, não estaria. Buscaria sinalização onde seus olhos alcançassem sentido. Nem sempre encontraria vias expressas, fluxo livre, estradas seguras. Era mais fácil atropelar os fatos, conduzir amores e intenções para o outro lado, mesmo na contramão dos acontecimentos. 
No início foi um simples girar de chave, um esquentar de motor, uma decisão tomada assim de arranque. Sem mapas ou GPS, a corrida logo se antecipou ao destino programado. 
Algumas vezes, pensou em largar o volante e optar por um passeio de bicicleta. Já muito girava em sua mente, melhor simplificar em duas rodas o que não se resolvia em quatro. Era tudo movimento, porque a vida não aceitava parada em fila dupla. Talvez em casais, talvez pais e filhos, por um momento ou outro, mas sem permissão de descanso além do estipulado limite do cartão. 
Sim, corria-se o risco de esquentar demais, de perder água e sentido, de esvaziar tanque de promessas e intenções. Havia regras,muitas delas, todas ali elencadas no livreto da auto escola. 
Ela já fora informada de quase tudo. Frequentara as aulas necessárias para aprender de uma vez que era preciso se auto conduzir, definir suas rotas, mesmo as de fuga. Aceitar que algumas estradas seriam bem ruins, que talvez o tempo mudasse de repente e embaçasse vidros e sonhos. 
Não deveria ser tão complicado assim, pensou, já desacelerando um pensamento mais veloz. Investira toda a vida em si mesma, com tantos erros e acertos quanto coubessem no bagageiro. Estepe, ocasionalmente usado, trocado por mãos amigas. Sabia que havia quem não se importasse em se sujar de graxa por ela. 
O lugar do passageiro vago. A paisagem clara em amplos para-brisas. As luzes no painel piscando na sintonia desejada. Estava tudo pronto.  Ela estava pronta. Da vida, se ocuparia. Do trajeto, aproveitaria. Sob tempestades, ou sob sol escaldando capota e desejos. Ali, dali em diante, bem ou mal, era ela quem conduzia.  

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