domingo, 28 de julho de 2013

SEM ESPERA


O tempo, generoso, passou com velocidade sem se importar com prováveis obstáculos. Ela agradeceu a quase falta de expectativas. Na pressa, tudo o que lhe restava era viver o momento , depois o seguinte, e assim por diante, pulando as pausas para reflexões. Sem oportunidade para avaliar joelhos ralados, hematomas ou cortes, continuava em frente. 
Em alguns momentos, as mãos geladas. Os pensamentos entorpecidos por um querer satisfeito aos goles. Então, sem filas de espera, sem bancos de aguardo e descanso, a vida se fez veloz e intensa. 
Se houve atropelo, não pôde perceber. Talvez, quando o caminho fosse refeito, encontrasse marcas e respingos de sangue. De onde estava, nem poeira avistava. Não havia possibilidade de olhar duas vezes. Visão turva. Orientação perdida. 
Sem quedas, prosseguia. Em passos desiguais, em dança aleatória. Sentia-se segura, amparada pela própria força. Para onde iria, não tinha ideia. Só seguia o fluxo como um rio em oceano derramado. 
Inundada, ultrajada, em farrapos de sensatez. Nua, sem pudores, de tudo quis um mundo. E o teve. Aceita, liberta de qualquer amarra, enfim abrigada, emergiu plena. 
O mais difícil seria se acostumar agora à falta de movimento, ao cair vazio. Deixou-se ficar, admirada com tudo o que lhe acontecera. Sem fôlego, era hora de repousar. Aceitar-se serena e muda, nos braços envolvida. 
Precisava ali ficar, quase imóvel. Sem pensar no que viria, posto que era só chama de um novo dia. Em belas fantasias, sua mente já se desembrulhava oferecida. Mas ela só fez piscar e deixar o amanhã para outro compasso. Estava tudo tão bem desenhado. Em perfeita conjunção com o que se expandia: corpo, mente, enfim.





Nenhum comentário: